Dia Mundial do Urbanismo | Cidade para pessoas

Escrito por Gustavo Garrido, presidente da AsBEA-SP e sócio da Archscape.

Nos últimos 10 ou 15 anos tem ganhado destaque na mídia geral e especializada muitas iniciativas mundo afora para a humanização das cidades. Apesar da aparente contradição desse termo, já que cidades são obrigatoriamente territórios habitados densamente por pessoas, desde a popularização dos carros, a cidade foi muito mais pensada para eles do que para os cidadãos. Dados alarmantes sobre acidentes de trânsito, índices de violência crescentes e o abandono das áreas centrais já eram fatos importantes que nos chamavam a atenção de que algo não ia bem com nossas cidades. Muitos movimentos desde então tem surgido para mudar este rumo e transformar essa realidade, principalmente no sentido de recuperar para o pedestre um pouco do espaço ocupado pelos automóveis.

Mobilidade ativa

O andar a pé, de bicicleta, de patinetes, começam a se tornar meios de transporte usuais e precisam ser integrados às redes públicas. Mas muito além disso, se torna indispensável ter espaços adequados e seguros para serem plenamente utilizados. Neste sentido, o trabalho dos arquitetos e urbanistas faz realmente uma grande diferença, desde o planejamento das rotas, até seu detalhamento específico. Não podemos esquecer que a realidade das grandes capitais, em especial de São Paulo, traz a topografia como um dificultador adicional para a plena concretização da mobilidade ativa, fato que vale incluir nos planos intervenções pontuais, por meio de escadas rolantes e elevadores públicos, como existem em outras cidades do mundo, como Medelin, Lisboa ou mesmo Salvador.

Cidades novas e existentes para o pedestre

Pelo interior do estado tem surgido, por autoria dos escritórios de arquitetura e urbanismo, diversos empreendimentos horizontais nos quais o conceito de cidade para o pedestre está sendo aplicado, já pensando nessa cidade que queremos para as pessoas. Chamá-los de loteamentos seria simplificar muito o conceito, são verdadeiras futuras centralidades, onde uso do solo e desenho urbano são planejados para estimular o convívio, sempre preservando o pedestre, com olhar especial para a criança, o idoso e pessoas com necessidades especiais. Artifícios como o tratamento de cruzamentos, controle programado de fluxo, sombreamento, cuidados nas travessias e especificação cuidadosa nos pisos, além da correta especificação da vegetação, garantem um espaço urbano qualificado.

Nas cidades existentes, a situação fática coloca desafios, mas de forma alguma impede a requalificação dos espaços, tanto o é que as estratégias acima citadas não só são possíveis na cidade existente, como também já foram implantadas em várias localidades, como exemplo emblemático podemos citar a famosa Times Square em Nova York, a qual passou de mais um cruzamento caótico, para uma área de reunião e permanência.

Além das estratégias aplicadas ao espaço púbico, outras de natureza privada podem contribuir para fomentar a vida urbana, como os casos de retrofit de edifícios e ressignificação de espaços subutilizados. E nestas questões os associados AsBEA estão contribuindo e muito com seus projetos, podemos citar alguns:

– Conjunto de Parques Reservatórios SABESP (Levisky Arquitetos – Estratégia Urbana)

– Parque da Juventude (aflalo / gasperini / Rosa Kliass)

– Projeto de Revitalização do Cais Mauá (Dal Pian Arquitetos)

O que a AsBEA-SP tem feito para fomentar boas práticas urbanísticas?

A AsBEA-SP tem sido chamada para várias reuniões com órgãos públicos, como a SP Urbanismo e SMUL, para aportar ideias para requalificação de espaços urbanos degradados, e tem contribuído por meio de seus associados que oferecem suas expertises em projetos importantes para a cidade, como, por exemplo, na ocasião do apoio à formulação dos textos de regulamentação das chamadas “Lei do Retrofit” e “Lei Cidade Limpa”.  Mas muito além disso, vemos uma necessidade de maior estruturação de ideias e para tanto, a ASBEA-SP está iniciando chamadas para formação de seus grupos de trabalho especializados, como o GT Legislação, GT Sustentabilidade e GT Urbanismo, de forma a fomentar as discussões e encontrar mais estratégias de contribuição para cidades mais humanas.

Fonte: AsBEA-SP