PIB da Construção deve crescer 3,8%

O PIB (Produto Interno Bruto) da construção brasileira deverá crescer 3,8% em 2021, ante uma queda de 2,5% em 2020. No ano que vem, as empresas formais do setor deverão ter um crescimento médio de 4,1% e o segmento de autoconstrução e reformas, de 3,5%. As projeções foram apresentadas pelo presidente do SindusCon-SP, Odair Senra, e pelo vice-presidente de Economia da entidade, Eduardo Zaidan, em entrevista coletiva virtual à imprensa, em 1º de dezembro.

Senra e Zaidan destacaram que uma grande preocupação do setor são os aumentos de preços de materiais de construção, que já estão refletindo nos custos das obras. Há expectativa do setor de que esse impacto avance pelo primeiro trimestre de 2021, podendo repercutir na retomada do setor e consequentemente, no nível de emprego.

O presidente do SindusCon-SP afirmou que boa parte do crescimento projetado da construção se dará para atender os contratos firmados neste ano nos lançamentos dos empreendimentos. Ele atribuiu o crescimento do segmento de incorporação a fatores como juros baixos dos financiamentos imobiliários, o desejo das pessoas de morar bem valorizado a partir da pandemia e a atratividade de se investir em imóveis em função da baixa remuneração de outras aplicações financeiras. “Seria bom que as taxas de juros continuem assim e que haja uma contenção dos custos com os materiais, para que as obras se viabilizem a um preço que o mercado paga”, comentou.

Senra destacou que a construção continuou ativa durante a pandemia, tomando todos os cuidados para preservar a saúde e o emprego dos trabalhadores, em colaboração com o Seconci-SP (Serviço Social da Construção) e o Sintracon-SP (reúne os trabalhadores da construção da capital paulista). “Salvamos vidas e não tivemos mais nenhum óbito desde maio”, afirmou.

Pedras no caminho 

Zaidan apontou fatores que podem dificultar a atividade da construção em 2021. Segundo ele, os aumentos dos preços de materiais deverão continuar no primeiro trimestre. Os preços daqueles produzidos por poucos fabricantes e que não têm concorrência externa podem seguir sendo impostos ao mercado. A seu ver, esse problema é maior do que a escassez de materiais. Contribuem também a baixa produtividade da economia, que torna a produção nacional cara, além do câmbio que elevou o preço de alguns insumos.

O vice-presidente de Economia citou a situação fiscal do país, somada à ausência de reformas, como a mais relevante das ameaças para o setor em 2021. “Essas lacunas nos levam a uma expectativa de baixo crescimento no próximo ano, o que está diretamente ligado à lenta recuperação do mercado de trabalho e da renda”, afirmou.

Além disso, para o vice-presidente do SindusCon-SP, o cenário para 2021 poderá trazer uma nova onda global da Covid-19, que desencadeará uma recuperação frágil da economia mundial impactando diretamente nos principais indicadores econômicos. As obras de infraestrutura dificilmente contarão com uma recuperação expressiva, por falta de recursos de governo e por conta da sinalização de um cenário econômico pouco consistente para atrair investimentos externos, acrescentou.

“Não há construção saudável em um país que não tem economia saudável. A construção processa metade dos investimentos do país, e o investimento não anda bem. Ele está abaixo do que já era miseravelmente irrelevante em 2019. As perspectivas para crescimento da economia passam por desatar o nó fiscal, prorrogar o auxilio emergencial arrumando um espaço para ele no Orçamento. Não há liderança clara do governo nesse sentido. A equipe econômica é dividida e apresenta propostas que não frutificam. O Congresso precisará ter protagonismo neste assunto”, declarou.

O vice-presidente afirmou que a construção brasileira perde 30% de seu produto entre 2014 e 2017, por uma questão fiscal mal colocada a partir de 2010. “Se o Brasil não resolver sua questão econômica, a construção terá grande dificuldade. Que se faça um arranjo no qual caibam as demandas e que possam voltar a ter reformas do Estado, mais redistributivas, e critérios para gastar bem os recursos arrecadados. É isso, e não se fazer uma reforma juntando dois impostos para simplesmente arrecadar mais.”

Retomada em andamento 

Em sua apresentação, a coordenadora de Projetos da Construção da FGV/Ibre, Ana Maria Castelo, mostrou que, segundo a Sondagem da Construção desta instituição, todos os indicadores da média do índice de atividades registram a retomada da atividade da construção, mas ainda irão apresentar variação negativa no ano.

Ela destacou o saldo líquido de 138,4 mil novos empregos criados pela construção até outubro, o crescimento das vendas do comércio dos materiais de construção e a retomada das vendas da indústria destes insumos, que ainda registram queda no ano.

Ao mesmo tempo, o indicador de incerteza da FGV voltou a crescer, o que afeta a decisão de investimentos. Segundo Ana Maria, as ameaças ao desempenho da construção para 2021 são a preocupação com uma nova onda de Covid-19, a baixa recuperação da economia mundial, a questão fiscal brasileira, o fim do auxílio emergencial e como será a retomada da economia nos próximos meses. Entretanto, ressalvou, há um ciclo contratado na construção, com obras que entrarão em atividade, como as do setor imobiliário e as de concessões e privatizações. A preocupação é com a sustentação do ciclo de retomada desse crescimento.