Seminário mostra vantagens de orçamentação em BIM

As vantagens da orçamentação em BIM (Modelagem da Informação da Construção) e de sua integração com o planejamento e a execução da obra foram os destaques do 11º Seminário Internacional BIM do SindusCon-SP, realizado pela primeira vez de forma inteiramente virtual e assistido por 293 pessoas em 13 de novembro. O evento encerrou a Semana da Construção do SindusCon-SP.

Abrindo os trabalhos, Odair Senra, presidente do SindusCon-SP, ressaltou o orgulho da entidade em ser pioneira desde 2010 na divulgação nacional do BIM, “uma realidade consolidada entre construtoras, projetistas, fornecedores, academia e governos”.

“Neste ano tivemos que enfrentar o desafio de manter a nossa atividade em plena pandemia. Conseguimos superar a pior fase e felizmente as vendas e lançamentos voltaram a crescer. Mas a concorrência é e continuará sendo forte. Mais uma vez precisaremos de muita produtividade na concepção e na execução dos nossos empreendimentos. O BIM está aí para isso”, afirmou.

Na sequência, Fernando Fernandes, coordenador do seminário e membro do Grupo BIM do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ), prestou uma homenagem ao professor Charles Eastman, da Universidade da Georgia (EUA), falecido recentemente. “Foi um dos maiores fomentadores do BIM no mundo, autor do Manual do BIM, um ícone da modelagem que deixa um legado gigante nessa área”, disse.

Ao final do seminário, Fernandes leu um pronunciamento do presidente do SindusCon-SP, reforçando que o BIM se tornou indispensável na concorrência acirrada dentro do setor pela conquista de novos contratos, além de ser cada vez mais exigido pelos governos.

“O SindusCon-SP, por meio do Grupo BIM do CTQ, continuará comprometido em divulgar esta poderosa ferramenta. Manteremos a preocupação em mostrar que ela também é acessível às pequenas empresas. Esperamos ter vocês de volta no ano que vem, para o 12º Seminário Internacional BIM. E também pretendemos retomar o Prêmio de Excelência BIM SindusCon-SP”, afirmou o presidente.

Comece simples 

Fernandes, Didier, Estefania, Suzuki e Vanessa

“O BIM está ao alcance de qualquer empresa, quem o experimenta, não volta atrás. Conheço uma pequena empresa com três pessoas operando em BIM de ponta a ponta, exceto para a assistência técnica. É querer e ir fazendo.”

As afirmações foram feitas pelo professor Rogério Suzuki, da RS Consultoria, recomendando a quem ainda não adotou a modelagem: “Comece simples.” Uma possibilidade, segundo ele, é a participação no projeto da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o BIM Colaborativo, com apoio do SindusCon-SP e outras entidades, e parceria com os principais desenvolvedores do BIM. O objetivo é inserir a modelagem em micro e pequenas empresas, criando grupos de 25 empresas, com início em dezembro. As etapas são conscientização, alinhamento conceitual, conhecimento de plataformas, formação de equipes, treinamento e elaboração de projeto piloto. Informações pelo site www.bimcolaborativo.com .

Entrando no tema, Suzuki mostrou uma das conclusões da tese de mestrado de Luiz Felipe Guerretta, que modelou em 7 dias um pequeno shopping de 1.500 m² em Araraquara, orçando seu custo diretamente a partir dos quantitativos modelados. O método se mostrou mais vantajoso que o mesmo orçamento feito em 2D, o qual apresentou  acréscimos de custo de mais de 120% .

O consultor mostrou como é o método BIM de orçamentação, pelo qual os quantitativos são extraídos dos itens modelados geometricamente. Isso não gera um orçamento completo, mas é um grande facilitador na extração de quantitativos, economizando mais de 60% em relação ao sistema tradicional. Os modelos têm vários níveis de desenvolvimento, com mais ou menos detalhes. Tudo isso tem que ser refletido num plano de execução BIM, para que os modelos sejam processados corretamente por cada plataforma de estimativa de custos e orçamento.

Cada empresa precisa identificar fluxos, prazos e cronogramas, para definir o método de extração das informações. O mais simples é partir do projeto autoral e extrair tabelas diretamente. Sofisticando mais, podem ser utilizadas ferramentas de programação, facilitando a extração e a conexão dos dados com bancos de dados. Já há plataformas mais sofisticadas, que leem arquivos de dados, processam, interpretam e começam a criar seu direcionamento para fazer tanto a estrutura de quantidades quanto a conexão com as bases de preços. As alternativas são os plug-ins: dentro do próprio software cria-se uma conexão entre a plataforma de modelo, a de orçamento e eventualmente até a de gestão.

Há plataformas que conectam a modelagem com suprimentos, contas a pagar e as ações para receber os materiais na obra. Outras fazem toda uma verificação de navegação, a qualidade de modelo, a quantificação com regras e trabalham com planejamento integrado ao orçamento.

Segundo Suzuki, é importante definir o modelo de gestão, escolher a plataforma que atenda a esse modelo, para daí a plataforma definir como se vai modelar. Para tanto, é relevante definir critérios de medição e validar o processo com um todo, antes de implantar. O perfil do orçamentista precisa mudar, ele deve entender a modelagem, ter habilidades na leitura para fazer a manipulação. E a empresa precisa se preparar para realizar muitos testes.

Fernandes comentou que mesmo as pequenas empresas já conseguem extrair quantitativos desde o início. “Fazendo com calma, não tem volta. A chance de erro no orçamento se reduz drasticamente.”

Melhoria contínua 

Fernandes e Estefania

Na sequência, a arquiteta Estefania Graciela Carré, da Construtora Tegra, mostrou como a empresa implementou o BIM. “É um processo que leva no mínimo dois anos, mas depois disso não acabou, aí otimiza. É um processo constante, de melhoria contínua.”

A Tegra definiu sua estratégia de BIM em 2015 e iniciou sua implantação em 2016. Em 2017, decidiu fazer todos os projetos em BIM, e modelou o primeiro piloto de orçamento. Em 2018, associou o BIM a projetos de inovação e executou BIM para orçamento aplicado a projetos. Em 2019, desenvolveu o uso de ferramentas de colaboração, envolvendo os projetistas. E neste ano de 2020, está reavaliando os processos, inclusive na parte de orçamento.

A automatização do processo de orçamentação reduziu o esforço operacional, deixando mais tempo para se priorizarem a análise de dados, os riscos e os estudos de sistemas e tecnologias a serem empregados na construção. Em 2018, consolidaram-se as diretrizes e se buscaram as causas de erros mais comuns. No ano passado, reavaliaram-se as plataformas e o processo, criando-se um banco de dados próprios.

“Mapeamos desvios. Enfrentamos dificuldades como identificar e modelar corretamente alguns elementos, o preenchimento da estrutura analítica do projeto (EAP), o agrupamento de elementos não contabilizados individualmente como as soleiras, a não modelagem de elementos conforme a diretriz de projetos.”

Foram criadas orientações específicas de modelagem complementando a diretriz, critérios de medição, uma tabela com codificação da EAP, uma tabela com descrição dos parâmetros necessários e um checklist de auditoria, para atestar a conformidade do modelo com a diretriz e o plano de execução BIM. As equipes passaram por uma conscientização por meio de um BIM Day, envolvendo mais de cem projetistas.

Grupos de trabalho foram montados para aprimorar a diretriz, com o envolvimento dos profissionais. As diretrizes de orçamento foram enviadas aos projetistas, realizou-se uma reunião de alinhamento esclarecendo os pontos do orçamento, desenvolvimento, auditoria e extração de quantidades, e sincronizando com a plataforma do Orça Fácil.

Segundo Estefania, os benefícios se traduziram em aproveitamento integral do modelo durante todo o ciclo do empreendimento, redução de 70% do tempo no levantamento de quantidades, diminuição de riscos de falha humana, identificação rápida de divergências e incompatibilidades em projeto, e verificação visual.

Foi preciso superar desafios como: a resistência dos projetistas em atender diretrizes, criar produtos e se adaptar ao cronograma; a existência de disciplinas que não entregam modelos como paisagismo, e questões de interoperabilidade de plataformas.

Ganho de tempo     

Didier e Vanessa, da Laguna

Na sequência, a arquiteta Didier Arancibia Alvarez, da Construtora Laguna, mostrou como aquela empresa, que trabalha com BIM desde 2011, decidiu fortalecê-lo em 2018. Contratou uma consultoria, integrando diferentes áreas durante todo o ciclo do empreendimento. À época, enfrentava problemas como longo tempo de levantamento de quantitativos, falta de integração de quantitativos com a fase de projeto, montagem de várias planilhas para registrar levantamentos e falta de clareza do processo para a programação de orçamentos.

Definidas as diretrizes e os critérios de quantitativos, houve articulação com os projetistas, alinhamento com a equipe de obra, e em 2019 se revisitaram os critérios e se testaram as plataformas. “Trouxemos a incorporação e começamos a envolver a assistência técnica. Preparamos a equipe de orçamentação. Evoluímos e testamos mais de 11 plataformas. Escolhido o Rubk, o levantamento de quantitativos caiu de 20 para 3 dias, continuando o prazo de 10 dias para vincular os quantitativos com o EAP.”

Complementando a apresentação do case da Laguna, a arquiteta Vanessa Regina de Oliveira afirmou que o custo se mostrou acessível, com rapidez na abertura da ferramenta, facilidade de manuseio, bom funcionamento mesmo em computadores não tão competentes, resultado do quantitativo de forma didática e de fácil entendimento, interface com funções similares ao Excel, e integração com Mega.

Outros ganhos: integração das áreas, com todos trabalhando em BIM; mapeamento de erros em projetos, evitando-os em projetos futuros; agilidade na extração de quantitativa, com o projetista também validando o modelo; o memorial de cálculo fica dentro da plataforma, para eventual consulta futura; o acesso pode ser feito qualquer lugar pela internet; e com melhoria na comunicação e menos tempo de extração, ganha-se tempo para análise, melhorar o estratégico e trazer resultados para a empresa.

As arquitetas recomendaram a contratação de consultoria, a integração das áreas e tempo dedicado ao planejamento. A equipe precisa ter muita dedicação e a direção deve dar apoio, entendendo que a empresa está desenvolvendo produtos ao mesmo tempo em que substitui uma maneira de operar por outra.

Perdeu? Assista  

A realização do 11º Seminário Internacional BIM encerrou a Semana da Construção do SindusCon-SP, que também contou com o 21º Seminário Tecnologia de Estruturas e com o 16º Seminário Tecnologia de Sistemas Prediais.

Todas as palestras dos seminários da Semana da Construção estão disponíveis gratuitamente no canal do SindusCon-SP no Youtube.

Patrocinaram o evento: Atlas Schindler, Gerdau e Saint-Gobain.

Apoio: ABCIC – Associação Brasileira de Construção Industrializada de Concreto, Abece – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, Abesc – Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem, Abrava – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, ABNT, Abrinstal – Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações, Apemec  – Associação de Pequenas e Medias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo , Apeop – Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística, ABNT CB-002 – Comitê Brasileiro da Construção Civil, CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção,  Ibracon – Instituto Brasileiro de Concreto, Fiabci-Brasil, Secovi -SP – Sindicato da Habitação, Sindicel – Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo, Sindinstalação – Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo.

Fonte: Sinduscon-SP